29 junho 2013

A importancia da flexibilidade dos modelos de jogo


Posted by Valter Correia 
       Numa primeira parte deste artigo, vamos procurar compreender o que é um modelo de jogo flexível, e numa segunda parte compreenderemos porque razões os modelos de jogo devem ser flexíveis. Existem várias características e princípios aplicados à criação de modelos de jogo. Por exemplo, no princípio da distância, um jogador deve saber a que distância se deve encontrar dos seus colegas de equipa. De jogo para jogo, cada jogador vai variar a sua distância aos colegas de equipa para realizar a sua função, porque a cada jogo, as situações variam. Esta é por exemplo, uma das razões porque um modelo de jogo deve ser flexível.

       O que é um modelo de jogo flexível?

       Vamos até ao fundo da questão. No que diz respeito ao modelo de jogo, podemos dividir em duas partes: sistema tático e processos de jogo. O sistema tático, isto é, a representação dos jogadores como 4-3-3 ou 4-4-2, orienta os processos de jogo e com isso, os jogadores em campo. Não influencia diretamente no rendimento da equipa, embora seja a base para todo o rendimento da equipa. Os processos de jogo representam como a equipa vai jogar, seja a defender, a atacar ou a transitar entre momentos de jogo. Ao juntar a forma como a equipa de organiza (sistema tático) e a forma como a equipa joga (processos de jogo), encontramos o nosso modelo de jogo e podemos então fazer a equipa jogar à nossa imagem.



       Levando as nossas ideias para o terreno de jogo, vamos encontrar sempre equipas diferentes, onde essas equipas tem também a sua organização da equipa e os seus processos, e com isso, tem o seu próprio modelo de jogo. Isto significa que vamos encontrar dificuldades perante um adversário organizado, disposto a vencer a partida e, ao longo da partida, vamos ter que fazer alterações na equipa para melhorar as nossas hipóteses de vencer a partida.
       Para que essas alterações possam ter sucesso, precisamos de estar preparados para as fazer. E para que os jogadores estejam prontos para essas alterações, temos que os preparar no treino. É exatamente através do treino que cada equipa busca a sua organização no modelo de jogo. Feito isto, a equipa só pode fazer alterações no decorrer de uma partida de futebol se o seu modelo de jogo permitir e estiver devidamente preparada para o fazer. Vamos enumerar várias razões porque um modelo de jogo deve ser flexível, mas esta é a mais importante: capacidade em moldar a equipa consoante a competição.
       É precisamente nesta capacidade que nos baseamos para compreender o que é um modelo de jogo flexível, pois um modelo de jogo flexível, é um modelo de jogo cujas próprias características permitem moldar a equipa a curto prazo (durante uma partida por exemplo) ou a longo prazo (durante uma competição completa). Portanto, modelos de jogo estáticos, que tem sempre a mesma forma de jogar, além de serem previsíveis, têm sempre poucas soluções. Já os modelos de jogo flexíveis têm imensas soluções para as diferentes dificuldades que encontram.


     5 razões porque um modelo de jogo deve ser flexível

       Existem várias razões porque um modelo de jogo deve ser flexível e adaptável. A seguir, deixamos algumas dessas razões:

       >>> Competição variada
       Durante a competição, enfrentam-se diferentes estilos de jogo. Quando a nossa equipa defronta uma equipa, irá encontrar um estilo de jogo. Se enfrentar outra equipa, irá encontrar outro estilo de jogo diferente. Quanto mais equipas defrontarmos, mais estilos de jogo diferentes vamos encontrar. Existe um provérbio que diz: " a mesma tática, a mesma vitória". No futebol, essa filosofia não se aplica. Podemos usar o mesmo estilo vários jogos porque é dessa forma que a equipa está habituada a jogar, mas não podemos usar as mesmas formas de atacar e defender, porque os vários adversários atacam e defendem de formas diferentes. Temos que nos adaptar jogo a jogo. Mourinho, pelo qual existe um dos melhores livros de futebol que existem, afirma também que cada jogo é um jogo e difere dos restantes jogos. Completando, não existem dois jogos iguais.

       >>> Risco de lesões
       Existe sempre o risco de lesões. Apesar de nenhum jogador ser insubstituível, todos tem um estilo diferente de jogar, e por isso, quando um jogador é substituído, o estilo da equipa altera-se parcialmente ou completamente. Assim, quando um jogador titular se lesiona, o seu substituto pode ser um jogador excelente e realmente acrescentar algo à equipa. No entanto, dificilmente o seu estilo será igual, e por isso o estilo da equipa será também diferente.



       >>> Evolução do modelo de jogo ao longo da época.
       Durante a competição, principalmente em equipas bem organizadas, serão encontradas sempre falhas a corrigir e ideias para melhorar o estilo de jogo de uma equipa à medida que a época vai avançando. Geralmente, os jogadores são ou deviam ser capazes de cumprir pelo menos duas funções na organização da sua equipa. Mas, no meio da equipa, pode acontecer que determinado estilo de jogo de um jogador não funcione. O treinador procura então um segundo estilo para o jogador, que acabará por influenciar o desenrolar do jogo de toda a equipa. Caso um modelo de jogo seja flexível, o treinador pode alterar o estilo dos jogadores sem que o rendimento seja quebrado, mas até melhorado.

       >>> Substituições e alterações táticas
       Substituições ou alterações táticas são sempre uma dor de cabeça por indecisões que muitas mentes acarretam. A meio de uma partida de futebol, é sempre necessário alterar a constituição da organização da equipa, e os resultados tendem a ser melhores se a equipa estiver pronta para essas alterações. Novamente com a ideia que jogadores diferentes tem estilos de jogos diferentes, e que cada jogador fará a equipa jogar de forma diferente, quando o treinador faz uma substituição, o estilo de jogo da equipa é alterado. O importante é que a equipa esteja preparada para isso, sendo que essa preparação parte da organização da equipa ainda no modelo de jogo.

       >>> Evolução dos jogadores.
       Quando os jogadores entram na rotina, é sinal que a sua evolução vai estagnar ou até recuar. O ser humano tem a sua mente insaciável e precisa de aprender sempre algo novo. Um modelo de jogo vale pelo que os jogadores aprendem para melhorar a sua organização em campo. Caso o modelo de jogo seja simples, os jogadores aprendem tudo depressa e deixam de evoluir tática e tecnicamente. Já se o modelo de jogo tiver várias soluções, isto é, tem várias formas de jogar e pode evoluir para outros níveis relacionados com o nível de dificuldade que se encontra, os jogadores podem continuar a evoluir até que o seu próprio organismo não permita ou precise descansar. Esta é uma razão porque José Mourinho, nos seus tempos primordiais de treinador principal, afirmava que treinava o 4-3-3 e depois alternava para o 4-4-2 losango. O próprio treinador (não por estas palavras) afirmava que no segundo ano a evolução dos jogadores iria estagnar, e não podia permitir que tal acontecesse. Servia-se do 4-4-2 losango pela dificuldade em ocupar espaços, levando os jogadores a concentrarem-se apenas pelo seu esforço.


       Quais são as características necessárias para que um modelo de jogo seja flexível e tenha resultados satisfatórios?

       Qualquer modelo de jogo pode ter várias soluções, mas a equipa não ter resultados, bem como um modelo de jogo pode até ser pouco flexível, mas os resultados da equipa são satisfatórios. Existem duas razões principais para que o modelo de jogo seja flexível e tenha os resultados pretendidos:

       >>> O modelo de jogo deve ser bem treinado
       De nada serve ter um super modelo de jogo, se a equipa não sabe como jogar dessa forma. Não basta ao treinador utilizar exercícios técnicos e pedir para os jogadores jogarem da forma como pretende. Se ainda por cima lhes gritasse, então é que eles não jogavam mesmo. Necessário sim, é ensiná-los e treiná-los, através de exercícios técnico-táticos, desde que estes sejam específicos, isto é, treinem os jogadores da forma que o modelo de jogo lhes pede para jogar.

       >>> Inter-relação entre os vários processos e jogadores
       Para que um modelo de jogo seja flexível, não basta ter apenas duas formas de jogar distintas. É necessário que as várias formas de jogar, mesmo que sejam muitas, sejam formas de jogar que os jogadores podem fazer ou podem vir a fazer (sejam capazes de as realizar após bem treinados). O que quero dizer é que cada jogador é adaptável a uma forma de jogar, e é um erro grosseiro fazer o jogador jogar algo que não sabe. Primeiro, precisa ser treinado, e só depois é que pode ser ensinado a jogar como queremos. E para que o jogador tenha melhores hipóteses de vir a ser bem-sucedido em vários estilos de jogo diferentes, depende da sua adaptação a esses estilos, assim como da adaptação à diferença desses estilos, uma vez que, sendo os estilos diferentes, o jogador necessita jogar de formas diferentes.


       Conclusão

       Após esta breve análise, ficamos a compreender a importância de um modelo de jogo ser adaptável e maleável a vários estilos de jogo. Tal como se fosse um jogo de xadrez, ter apenas um caminho para atacar seria muito fácil para o adversário defender. Já no futebol, utilizar um modelo de jogo estático é tão benéfico para os adversários como prejudicial para a própria equipa pelas razões acima numeradas. Numa outra análise, estudaremos algumas dicas para criar um modelo de jogo flexível, mas por agora, deixo o leitor com alguns artigos importantes:

25 junho 2013

Estratégias para treinar ataques rápidos e ataques posicionais


Posted by Valter Correia 
       Recentemente, no que diz respeito a como é compreendido o treino no futebol, houve uma mudança de filosofias e métodos utilizados pelos treinadores durante a semana de exercícios no treino. A periodização convencional, aos poucos, tem sido substituída pela periodização tática, ainda desconhecida ou mal compreendida por muitos, mas que tem cada vez mais importância nos treinos por todo mundo.
       Para compreender a periodização tática e o porquê deste tipo de treino ser tão eficaz para o modelo de jogo que pretendemos adotar na nossa equipa, precisamos de ir buscar alguns fundamentos da periodização tática. O comportamento do ser humano é constituído por hábitos que, por um lado, nos ajuda a estabilizar as nossas vidas, e por outro lado, cria barreiras na nossa evolução. Isto significa que, quando nos habituamos a fazer algo, que implica fazer, e repetir várias vezes, tornámo-nos especialistas nessa tarefa.



       Então, transferindo esta ideia para o futebol, a periodização tática não serve para treinar a forma física geral dos jogadores, porque isso não é necessário no jogo. Em vez disso, a periodização tática serve para treinar o comportamento dos jogadores, repetindo esses comportamentos várias vezes em situações semelhantes, até que o cérebro de cada jogador aprenda e mais tarde se habitue a jogar da forma como treinou.
       Através da periodização tática, cuja filosofia se vai buscar fora da vertente tática mas que treina essa vertente, é possível modelar a forma de jogar que queremos para a nossa equipa, repetindo várias vezes os comportamentos que o nosso modelo de jogo contém, enfrentando os comportamentos que a nossa equipa vai encontrar.

Gostaria apenas de salientar que este artigo tambem foi publicado no Jornal Record

       Estratégias para treinar ataques posicionais e ataques rápidos

       É verdade quando afirmamos que o ataque posicional e o ataque rápido têm os princípios de jogo tratados de forma diferente. Se por um lado o ataque posicional requer que a bola seja cuidada, com processos de jogo mais demorados, por vezes até complexos, os ataques rápidos são processos ofensivos globalmente mais simples, normalmente com um desgaste maior, com um número de ataques maior e com criação de mais oportunidades de golo. Assim, baseando neste argumento, podemos traçar uma estratégia para os ataques posicionais e outra para os ataques rápidos, sendo cada uma dessas estratégias especialmente orientadas pela vertente psicológica. Cada uma das estratégias será ideal para usar quando o treinador pretende criar alta performance no rendimento dos atletas, criando hábitos de pensar e preparar o jogo, assim como hábitos para se concentrarem no jogo. São duas entre dezenas de estratégias possíveis para criar excelentes processos de jogo dentro de um plantel.

       Estratégia para ataque posicional

       Se o leitor pretende ter uma equipa que ataca posicionalmente, uma excelente método será organizar a sua equipa num jogo onde essa equipa simula que está a perder. Por exemplo, vamos dividir o plantel em duas equipas, uma que vai fazer o ataque posicional como pretendemos, e outra que vai servir de obstáculo, como único objetivo é contra-atacar. Adicionando a isto, a equipa que ataca posicionalmente simula que está a perder 1-0 e tem apenas 5 ou 10 minutos para, pelo menos empatar.



       A condição do exercício é, quer a equipa atacante queira ou não, será organizar o seu jogo, tanto para defender como para atacar. Uma vez que a equipa contrária está pronta para contra-atacar, o resultado é negativo e existe pouco tempo para recuperar esse resultado, que felizmente é curto, o risco de perder a bola é muito elevado, pois isso indica probabilidade de sofrer um golo, e caso isso aconteça, é muito provável a equipa ficar a perder 2-0 e com isso ser incapaz de recuperar o resultado.
       Quanto ao treinador, pede quais são os processos que a equipa deve utilizar, quais são os jogadores responsáveis por cada parte de um processo, e por aí adiante. A única condição é fazer a equipa enfrentar outra equipa, que está a ganhar, e que pode resolver o jogo a qualquer momento.
       Para isso, precisa de se organizar, ligar os vários setores, para que os jogadores responsáveis pelos processos ofensivos possam atacar com liberdade, sabendo que estão protegidos se perderem a bola. Estamos portanto, perante uma situação com pressão psicológica, onde os jogadores são obrigados a afastar a pressão de um resultado negativo para se reorganizarem como um todo para que então possam vencer uma partida complicada. Mais tarde, este exercício pode ser evoluído para um resultado negativo com diferença de golos maior, obrigando os jogadores a fazer mais de um golo e a pensarem ainda mais depressa

       Estratégia para ataque rápido

       O ataque rápido não envolve os mesmos princípios de jogo que o ataque posicional, ou pelo menos, os princípios de jogo não são envolvidos da mesma forma. Se o ataque posicional necessita de se organizar para atacar, o ataque rápido precisa ser explosivo e objetivo. Para isso, podemos utilizar novamente o contrarrelógio para desenvolver o ataque rápido da equipa.
       Em uma situação semelhante à do ataque posicional, uma equipa organiza-se para atacar e outra organiza-se para defender. A equipa que pretendemos treinar o nosso processo de ataque rápido é a equipa que ataca. Para a equipa que defende podemos treinar pressing forte para dificultar a tarefa da equipa que ataca



       Então vamos dividir o grupo em duas equipas, e indicar à equipa que vai atacar, quais são os processos de ataque que o treinador pretende. Por exemplo, três ataques variados pelo lado direito, duas situações nas costas da defesa e dois cruzamentos através do meio-campo, não importa de onde. Importa sempre é que cada processo ofensivo que o treinador pediu seja completo, com situação de finalização onde a bola vá à baliza.
       Entretanto, para que este exercício seja completo, a equipa tem novamente apenas 5 ou 10 minutos para realizar todos os ataques que o treinador pretende, perante uma equipa bem organizada. Por sua vez, a equipa que defende, o único objetivo é recuperar a posse de bola, e a partir daí, fazer a bola circular, fazendo a equipa atacante perder tempo para realizar todos os seus processos ofensivos. Assim, obrigamos a equipa atacante a atacar bem e a recuperar a posse de bola rápido, para que possa iniciar sempre mais um ataque, novamente com um limite de tempo para o fazer

       Análise final

       Após a análise a ambas as estratégias, sabemos que ambas as situações são complicadas para a equipa que ataca, e que ambas as situações impõem um limite de tempo para os jogadores. Quer os jogadores queiram ou não queiram, são obrigados a concentrar-se unicamente no jogo para que os seus objetivos possam ser propostos. Para ambos os casos, cada equipa precisa ser rápida a agir e a pensar, algo que já explicamos em quatro razões porque as melhores equipas são muito fortes na antecipação. Por sua vez, obriga também as equipas a jogar de forma organizada entre os quatro momentos de jogo

18 junho 2013

Entenda porque razão, os clubes não devem formar apenas jogadores, mas tambem homens


  Valter Correia 
       Frequentemente, recordamos o atleta como uma ferramenta de trabalho para um modelo de jogo, onde a técnica, a tática, o físico e o psicológico são as quatro características gerais de cada jogador. Agrupando todas estas características num só atleta, o treinador escolhe como formar o modelo de jogo para que este jogador seja valorizado da melhor forma possível, seja para o clube ganhar rendimento desportivo, seja para ganhar rendimento financeiro.

       A importância da formação do jogador para que possa servir os interesses do clube é uma questão muitíssimo importante, uma vez que o clube necessitará do jogador por várias razões, tais como:


  • Valorizar o jogador, procurando a venda por uma boa quantia de dinheiro
  • Potencial individual e coletivo, melhorando o rendimento desportivo da equipa
  • Criar histórico de sucesso no clube, ao longo do tempo
  • Potencializar o futuro do clube

       Compreendendo a importância destes aspetos para o clube e para o jogador, devemos também compreender que o jogador não serve apenas como ferramenta dentro de campo, uma vez que nunca deixa de ser um ser humano, dentro e fora do campo. Quero com isto dizer que o atleta não deve ser apenas formando como jogador, mas como pessoa e ser ensinado em valores desportivos como em valores morais e éticos.



       A formação do jovem atleta

       Existem imensas escolas de futebol, responsáveis por formar jogadores de futebol no bom sentido da palavra, e apenas exercitar jovens atletas que mais tarde não seguirão carreira. Muitos jovens, mais tarde ou mais cedo, acabam por abandonar o futebol por várias razões, seja porque preferem uma profissão diferente ou não veem futuro no futebol, seja porque não tem dinheiro para continuarem a praticar desporto, ou não tenham sequer tempo para o fazer, devido a outras atividades. Porém, todo o tempo que o jovem atleta gasta no clube, deve ser aproveitado, formando-o como jogador e principalmente como pessoa. Vejamos algumas situações que podem ocorrer após a má formação de um atleta, no que diz respeito à formação pessoal e não profissional:

  • Um atleta, que não foi ensinado a defender os valores do clube, acaba por não se importar com os objetivos do clube e deixa o clube sem deixar rendimento
  • Um atleta, que não compreende que o grupo é mais importante que o individual, irá tentar valorizar-se a si próprio, mesmo que para isso desvalorize os seus colegas
  • Um atleta, que julga ser superior tecnicamente em relação aos colegas do grupo, poderá tentar ações individuais e queimar ações coletivas da equipa
  • Um atleta, que não sabe que parte da sua responsabilidade é manter o companheirismo, ou não lhe foi imposto limites no seu lugar no grupo, poderá tentar destabilizar o grupo.

       Como podemos ver, existem vários problemas causados pela má formação do atleta no que diz respeito ao seu comportamento fora do campo. Durante a fase da adolescência do atleta, o clube oferece algo a que podemos chamar de primeiro emprego, onde o atleta poderá aprender valores que não aprende em casa, pois a sua casa não é um emprego. Por exemplo, em casa aprende o que é a ética e a educação, e no seio do plantel, aprende o que é companheirismo e humildade. Vejamos o depoimento enviado pela nossa leitora, Joana Maia:


       Os pais, os seus filhos, e a bola que se intromete pelo meio

       Será uma preocupação inerente a quase todos aqueles que são pais de proporcionar aos filhos uma atividade que lhes permita combater a ociosidade, a falta de atividades nos seus tempos livres e, por outro lado, fomentar o desporto, a socialização, o saber e fazer respeitar regras, o altruísmo, a capacidade de superação, o desejo de vencer, o respeito pelo próximo, etc..

       Sabemos, nós treinadores, que talvez sejamos as pessoas mais importantes no que concerne à transmissão dos valores apregoados pelas Instituições desportivas e, por esse facto, temos uma enorme responsabilidade entre mãos porque se estivermos mal preparados ou se pensarmos exclusivamente em desempenhar o nosso papel de TREINADOR poderemos estar a deformar os nossos atletas ao invés de potenciar todas as suas vertentes humanas. Claro que é uma tarefa de certa forma complexa que requer da nossa parte um conhecimento aprofundado de algumas ciências humanas mas, acima de tudo, que manifeste uma sensibilidade muito específica e devidamente direcionada para os diferentes grupos etários. Não nos podemos esquecer da forma como os atletas nos veem, da imagem que personificamos e, por tudo isso, os nossos atos serão diariamente escrutinados por todos eles, analisados ao mais ínfimo pormenor e posteriormente serão dissecados e trabalhados de acordo com as suas preferências. Claro que os Pais almejam, uns mais que outros, é certo, o sucesso quase imediato e sucessivo dos seus periquitos cedendo também eles à tentação de lhes exigir mais do que efetivamente poderão dar.

       É neste contexto que o papel do treinador se assume como catalisador, quer da vontade do Pai, quer da apetência do filho para a prática de determinado Desporto, na abordagem dessa problemática no sentido de clarificar e definir da melhor forma qual o melhor caminho a ser seguido pelo atleta. A competência do treinador e a sua constante reflexão sobre aquilo que se faz nos treinos ajuda a minimizar possíveis erros de avaliação sendo certo porém que por mais preparado que esteja poderá não ser suficiente para garantir um crescimento sustentado e harmonioso do atleta. Porque há situações que estão fora do controlo do treinador, e aí muitas vezes surge o papel do Pai na sua abordagem durante e fora do treino do filho que despoleta na maioria das vezes o contraditório na sua mente, este terá de desmistificar toda essa informação sob pena de colocar em risco o grupo que orienta. Já assisti a atletas, nas mais variadas idades, a repreenderem os seus progenitores pela forma obsessiva com que os abordavam no sentido de melhorarem o seu rendimento em campo.

       Assim como nas nossas vidas profissionais eles também começam a fazer as suas escolhas no desporto que praticam, nas tomadas de decisão que são obrigados a fazer e na assertividade das mesmas por isso o ideal será porventura ficarem lado a lado mas com a bola na posse do filho. Afinal de contas quem tem a bola é quem manda no jogo.

       Neste contexto, devemos atribuir ao clube e ao treinador, a responsabilidade de formar o jovem atleta, seja para potencializar o futuro do próprio clube, o nível de opções táticas e estratégias como imagem do clube, seja a nível desportivo, uma vez que, quando o atleta sair e representar outro clube, será uma garantia para o novo clube que terá um profissional a defender as suas novas cores, permitindo assim a evolução e valorização do desporto. Se todos os clubes se dedicarem à formação de atletas e profissionais, o futebol nunca se tornará um caos.

13 maio 2013

A estabilizacao da forma desportiva


Posted by Valter Correia on May 11, 2013 at 1:35 PM
       Dividindo a avaliação do rendimento de um jogador de futebol, encontraremos sempre dois grupos essenciais: forma física e forma competitiva.  Através dessa análise, buscando melhorar o rendimento da equipa, surgem questões relacionadas, como por exemplo "Como podemos fazer para que o jogador alcance elevado rendimento através do treino?"; "Quais são as vertentes que nos devemos focar? e "Quais são as filosofias que devemos seguir para conseguir esse desejado alto rendimento?". Hoje responderemos a estas perguntas, mas primeiro, vale sempre a pena relembrar qual é a atual realidade do treino do futebol.

       A evolução do treino no futebol

       Atualmente, com ajuda da globalização e da constante atualização dos meios de comunicação, temos o direito de considerar que o estudo do treino desportivo assumiu um grande desenvolvimento, sendo cada vez mais estudado, trabalhado e procurando-se diferentes respostas às mesmas perguntas: "como treinar?" e "o que treinar?". Através do esquema seguinte, representando a necessidade de evolução do treino do futebol, compreendemos facilmente porque estas duas perguntas nunca estão respondidas, uma vez que a inserção de novos métodos de treino possibilita novas evoluções competitivas.


       Aprofundando este esquema, partindo do princípio que o futebol está em constante evolução onde os adversários de uma equipa buscam respostas às adversidades e novas soluções que permitam o seu desenvolvimento, essa equipa deve igualmente procurar respostas para que qualquer adversário nunca esteja um passo à frente. A partir do momento que se consegue uma evolução no treino, sendo possível a integração de novos processos e estratégias no jogo, automaticamente se procuram atualizações a esses processos e uma forma de os treinar. A competição (que necessita de rendimento) é responsável pela constante evolução do treino no futebol e vice-versa.

       O que fazer para que o jogador alcance elevado rendimento?

       Bem, como os jogadores não são todos iguais, não devemos procurar nenhum padrão de treino. Procurar criar esse padrão é um erro, porque treinar todos os jogadores da mesma forma beneficiará mais uns jogadores do que outros jogadores. Aquilo que devemos fazer é criar um método de treino e não um padrão de treino. Pela experiência que cada atleta tem assim como devido ao organismo do atleta, as respostas aos estímulos do treino dadas pelos atletas será sempre diferente de uns para os outros. Desta forma, devemos basear-nos num paradigma de treino adaptável a todos os jogadores e não a uma forma de treinar contínua. Antes de mais, devemos procurar compreender como reage o organismo de cada jogador aos estímulos do treino, isto é, se o jogador aprende melhor ou pior, mais depressa ou mais devagar, se evolui ou não evolui a determinados estímulos. Depois, comparando os resultados obtidos de todos os jogadores e aliando estes resultados à forma de jogar que pretendemos instaurar na equipa é que podemos encontrar um método de treino viável.

       Quero com isto dizer que devemos relacionar a capacidade dos jogadores com o modelo de jogo que pretendemos para a equipa e então encontrar um método de treino que possa adaptar os jogadores ao nosso modelo de jogo. Lembrando que nem todos os métodos de treino servem para treinar todos os modelos de jogo, isto é, cada equipa tem apenas um método de treino por modelo de jogo, devemos sempre ser hábeis a avaliar a evolução dos jogadores durante o treino. De outra forma, não sabemos se o método de treino que escolhemos dá certo sem avaliar a evolução dos jogadores.




       Entretanto, como representa a figura acima, existe ainda um terceiro fator de elevado peso na modelação dos atletas. Embora vários desportos sejam parecidos e os atletas possam ser treinadores através de métodos idênticos, cada desporto tem a sua exigência a nível desportivo e coletivo, fator que condiciona (ou ajuda a solucionar) o método de treino. Sendo o futebol um desporto coletivo, onde a equipa joga como um todo, onde se procura a vantagem numérica perante cada adversário, onde a habilidade individual e coletiva de cada terá sempre o seu peso, tudo isto condiciona o treino. Significa isto que, para encontrar um método de treino, precisamos de adaptar os jogadores à realidade desportiva através de um modelo de jogo que possa servir essa realidade, para então encontrar um método de treino que possa instaurar esse modelo de jogo na equipa.
       Assim, para ensinar um jogador a jogar futebol, temos de o ensinar de forma específica, através de um modelo de jogo que possa servir esse jogador e os seus colegas de equipa. E fazemo-lo através de um método de treino também este adaptado com especificidade para o futebol.

       Quais as vertentes que nos devemos focar no treino?

       Vamos partir da ideia que existem as partes e existe o todo, onde os dois se condicionam mutuamente. Por exemplo, um carro, que todos nós sabemos que é movido por um motor. Existe algum carro que anda apenas com o motor, mas sem rodas? E existe algum carro que de desloca sem motor? Por muito potente que seja um motor, não anda sozinho, e os pneus até podem ser novos e de corrida, mas não saem do sítio se não houver algo que os faça andar rodar. Trazendo esta ideia para o futebol, compreende-se que uma equipa não funciona pelo todo se não funcionarem as partes e vice-versa. Assim, sendo o futebol um desporto coletivo, devemos concentrar-nos em criar uma equipa através das partes e do todo, e devemos aprofundar esses dois significados para encontrarmos as vertentes que devemos treinar, adaptando-os à realidade desportiva.

       Bem, sabemos que a condição física é uma condicionante do atleta, seja para o rendimento individual seja para o rendimento coletivo, e que por isso precisamos desenvolver. Sabemos que a vertente técnica e a vertente psicológica estão ligadas à vertente tática do jogador, e que as precisamos de treinar em simultâneo, treiná-las confrontando a vertente física do jogador. Desta forma, treinar cada jogador nestas quatro vertentes individuais em simultâneo com os restantes jogadores, buscando encontrar uma forma de jogar para a equipa é o melhor método para desenvolver um jogo na equipa. Digo treinar buscando uma forma de jogar, porque treinar os jogadores fazendo-os individualmente perfeitos sem os ensinar a jogar todos juntos por um objetivo não os fará jogar como um todo, mas como várias partes. Uma equipa deve trabalhar em função dum objetivo comum e não em função da habilidade individual.

     Quais são as filosofias que devemos seguir para conseguir este desejado alto rendimento?

       Podemos basear-nos nas questões respondidas anteriormente para resolver também esta questão. Já compreendemos que precisamos encontrar um equilíbrio entre as partes e o todo de uma equipa e agora vamos perceber como encontrar esse equilíbrio. Antigamente, uma época estava dividida em vários períodos, com picos de forma (picos de forma são alturas quando se concentram jogos mais difíceis ou maiores quantidades de jogos em determinado período de tempo) que era quando a competição se elevava imenso e as equipas usavam os períodos anteriores a cada pico de forma para restabelecer energias, como indicava a periodização convencional. Entretanto, treinar os atletas para obterem forma física consistente em várias alturas do ano não produzia os resultados pretendidos, porque após um pico de forma, a equipa tinha uma quebra de forma. Mesmo que houvesse jogos para disputar em períodos de forma baixa, era também necessário vencer esses jogos, e por isso procurou-se novos métodos de treino que pudessem estabilizar a forma física e consequentemente a forma desportiva. A periodização tática veio estabilizar a forma física e consequentemente a forma desportiva, através da criação de hábitos durante o treino.



       Através do padrão semanal ou morfociclo (pertencente à periodização tática) onde o treino semanal é igual durante toda a época, isto é, de semana para semana, apesar dos conteúdos serem diferentes, a intensidade e o volume são iguais, habituando o jogador a desgastes constantes. Assim, encontrou-se uma forma de estabilizar o rendimento. Como o organismo dos jogadores habitua-se a determinados desgastes físicos e psicológicos constantes, o organismo faz recuperações similares de semana para semana, evitando desgastes excessivos de energia e não sendo assim preciso recuperar os jogadores por longos períodos de tempo.

       Resumindo esta filosofia, baseada no organismo dos jogadores e a busca na estabilização do rendimento, equilibra-se o treino entre tempo necessário de recuperação e desgaste semanal, levando à estabilização desportiva e consequentemente sucesso desportivo, uma vez que todos os jogos são para vence

10 maio 2013

Descubra pormenores táticos que muitos treinadores desconhecem


Posted by Valter Correia on April 7, 2013 at 9:10 AM
       Alguns treinadores guardam sempre um livro com algumas ou mesmo muitas jogadas já pensadas e estudadas, sendo esse um livro que usam para preparar os jogos de futebol. O objetivo deste artigo não é apresentar ou falar de algum desses livros pessoais, mas apresentar algumas das jogadas, que mesmo sendo essenciais, passam ao lado de muitos adeptos de futebol.

       Lateral solto

       Imensas vezes encontrámos situações semelhantes à situação da figura, onde uma equipa defende uma determinada zona do campo, e surge sempre um jogador adversário solto no outro lado do campo. Esta situação tem um aspeto tático para a equipa que ataca e um aspeto tático para a equipa que defende.




       Para a equipa que ataca, o objetivo será conseguir espaço para progredir com a bola. Por isso, a equipa atacante deve utilizar o conceito da amplitude (o lateral ou extremo aparece solto, oferecendo amplitude à equipa), servindo-se de um jogador junto à linha lateral contrária ao centro de jogo. Muitos treinadores aproveitam este aspeto e tentam levar a equipa adversária para um lado do campo, subir um jogador no flanco contrário e tentar aproveitar o espaço que criaram.

       Para a equipa que defende, é mais importante ocupar o espaço em volta da bola do que o espaço longe da bola. Utilizando algo a que chamamos flutuação, proteger a zona em volta da bola, servindo-se da superioridade numérica, torna-se relativamente fácil. Através da flutuação, a equipa movimenta-se em função da posse de bola e ocupa o espaço em volta da bola, apenas ocupando outros espaços se realmente necessário. Muitos treinadores preferem proteger o centro do jogo, uma vez que se o adversário leva a bola para o flanco contrário, há sempre tempo para recuperar terreno e colocar a equipa entre a bola e a baliza. Caso se torne um abuso por parte da equipa atacante, um excelente conselho será ocupar o flanco contrário com um ou dois jogadores, ou impedir a bola de lá chegar.


 

       Transporte de bola

       Existem jogadores especialmente dotados, capazes de conduzir imenso a bola sem a perder. Este tipo de jogadores é um dos meus favoritos, especialmente se souberem quando devem soltar a bola. Através do exemplo a seguir, sabemos que quando um jogador transporta a bola, os adversários são obrigados a acompanhá-lo, caso contrário este levará a bola para espaços vazios que possa explorar. Portanto, a equipa defensiva deve equilibrar entre acompanhar o portador da bola e fechar o espaço de forma equilibrada, impedindo que a movimentação ofensiva tenha sucesso.



       Ao transportar a bola, o portador consegue obrigar o adversário a libertar espaço e ocupar outros espaços menos vitais, dificultando a tarefa defensiva da equipa sem bola. Aproveitando a movimentação do adversário, alguns colegas de equipa podem ocupar os espaços que foram libertados para que o portador lhes passe a bola.


 

       O médio defensivo como motor da equipa

       O médio defensivo é uma peça fundamental na maior parte dos modelos de jogo. Por exemplo, o 4-2-3-1 tem médios defensivos, qualquer 4-3-3 com meio-campo em triângulo tem médios defensivos, assim como o 4-1-4-1, e por aí adiante. Atualmente, o médio defensivo é utilizado para proteger a zona em frente aos defesas centrais durante o momento defensivo e é responsável várias vezes pela saída de jogo durante a transição ofensiva. Várias equipas servem-se do médio defensivo como principal motor da equipa nos vários momentos de jogo, onde este é responsável pela primeira cobertura defensiva aos médios centro ou interiores, pela ocupação de espaços livres quando algum defesa se solta da sua posição, ou mesmo pela distribuição de jogo durante a transição ofensiva. Vejamos alguns exemplos da dinâmica do médio defensivo:



       Contenção durante a saída de jogo
Quando os laterais aumentam a amplitude até às linhas laterais, apenas dois defesas centrais não chegam para equilibrar o espaço defensivo. O médio defensivo recua para a linha dos defesas centrais e ocupa o espaço entre os mesmos, como mostra a figura.

       Cobertura defensiva aos jogadores mais adiantados
É extremamente útil ter mais do que duas linhas atrás da linha da bola. Assim, caso um dos médios seja ultrapassado, o portador da bola encontra ainda duas linhas de marcação e não fica de cara a cara com os defesas centrais.

       Equilíbrio da zona entre defesas e médios
Muitas equipas são hábeis a explorar o espaço entre linhas do adversário. Adicionando um médio defensivo a este espaço, dificulta a tarefa dessas equipas, principalmente se o médio defensivo apenas ocupar essa zona e restringir-se de outras tarefas

       Distribuição de jogo
O médio defensivo, quase sempre posicionado no corredor central, dispõe de linhas de passe para trás, para o lado, em diagonal e para a frente. Aliando a visão de jogo e a habilidade em passar a bola, um médio defensivo com a função de distribuir jogo torna-se uma arma mortífera.


 

       A exploração dos espaços entre as linhas

       Quando referimos o quanto é importante a ocupação do espaço entre linhas ao estudar o médio defensivo compreendemos que existe uma grande importância na ocupação desses espaços. Perceberemos agora porque razão atribuímos tanta importância. O espaço entre a linha da defesa e a linha do meio-campo é o último espaço horizontal antes do espaço das costas da defesa. Através deste espaço. Especialmente no corredor central, podem ser criadas inúmeras situações de finalização, para não dizer mesmo todas. Assim, a ocupação deste espaço através da utilização de um médio defensivo é sempre um conveniente extremamente útil. Vejamos várias situações criadas através do espaço entre as linhas da defesa e do meio-campo:



       Troca de flanco para cruzamento
       A equipa troca rapidamente de flanco e consegue um cruzamento, servindo-se do caminho mais curto para trocar a bola de flanco



       Tabela em frente à grande-área
       Enquanto o avançado recua para receber a bola, o jogador que a passou, está já em movimento para a receber e finalizar sem oposição



       Transição rápida e dinâmica
       Mal a equipa recupera a posse de bola, esta consegue levá-la rapidamente ao ataque com poucos riscos de a perder


 

       Duplo lateral

       Provavelmente, eu nem deveria partilhar este pormenor tático de tal simples que é, embora seja inovador para 99% dos apaixonados pelo futebol. Este pormenor não convém ser utilizado em qualquer altura no jogo durante uma partida de futebol. O momento ideal será quando a equipa está toda em cima do adversário ou ataca por longos períodos de tempo, mantendo, ao mesmo tempo, a eficácia defensiva. Reparemos na seguinte imagem:



       Neste esquema tático, com dois médios defensivos por posição, um deles está adaptado, sendo um lateral esquerdo na posição de um médio defensivo. Foi adaptado porque a equipa necessitará das suas características ofensivas e ao mesmo tempo, sendo um lateral capaz de defender, necessitará das suas características defensivas.

       Como funciona?

       Geralmente, os laterais têm características defensivas e ofensivas. Quando é necessário recuperar de um resultado negativo, principalmente quando a equipa está sempre no seu meio-campo ofensivo, será realmente necessário manter um médio defensivo com pouca dinâmica ofensiva? Porque razão não podemos utilizar dois laterais, que atacam à vez, que sempre é uma solução mais ofensiva que um médio defensivo? Tem imensas vantagens, tais como:

- Manter ataque contínuo
- Deixar um lateral a recuperar fôlego para mais tarde atacar enquanto o outro lateral ataca
- Desgaste inferior ao desgaste adversário


       A principal vantagem deste método organizacional, reside na capacidade da equipa em atacar, e mal termine um ataque, ter condições para recuperar a bola e voltar a atacar imediatamente. Qualquer lateral tem, ou devia ter, vocação defensiva e principalmente, vocação ofensiva. A função do médio defensivo é essencialmente defender, e grande parte dos médios defensivos não tem a capacidade de desorganização do adversário como tem os laterais. Por sua vez, um lateral também não tem a mesma solidez defensiva dos médios defensivos, mas, para uma equipa que mantém ataque contínuo, a frieza de um lateral adaptado basta, pois este está habituado a defender.


       Vejamos, estamos numa altura do jogo onde é necessário atacar mais do que defender, é necessário desorganizar mais o adversário do que organizar uma zona onde a bola quase não circulará. Um lateral tem melhores condições para desorganizar do que um médio defensivo. E dois laterais, a apoiar constantemente a equipa, deixam qualquer adversário sufocado. Esta estratégia pode ser especialmente útil para equipas de posse de bola, com dois médios defensivos por posição, com ataque maioritário por um dos flancos.