29 junho 2013

A importancia da flexibilidade dos modelos de jogo


Posted by Valter Correia 
       Numa primeira parte deste artigo, vamos procurar compreender o que é um modelo de jogo flexível, e numa segunda parte compreenderemos porque razões os modelos de jogo devem ser flexíveis. Existem várias características e princípios aplicados à criação de modelos de jogo. Por exemplo, no princípio da distância, um jogador deve saber a que distância se deve encontrar dos seus colegas de equipa. De jogo para jogo, cada jogador vai variar a sua distância aos colegas de equipa para realizar a sua função, porque a cada jogo, as situações variam. Esta é por exemplo, uma das razões porque um modelo de jogo deve ser flexível.

       O que é um modelo de jogo flexível?

       Vamos até ao fundo da questão. No que diz respeito ao modelo de jogo, podemos dividir em duas partes: sistema tático e processos de jogo. O sistema tático, isto é, a representação dos jogadores como 4-3-3 ou 4-4-2, orienta os processos de jogo e com isso, os jogadores em campo. Não influencia diretamente no rendimento da equipa, embora seja a base para todo o rendimento da equipa. Os processos de jogo representam como a equipa vai jogar, seja a defender, a atacar ou a transitar entre momentos de jogo. Ao juntar a forma como a equipa de organiza (sistema tático) e a forma como a equipa joga (processos de jogo), encontramos o nosso modelo de jogo e podemos então fazer a equipa jogar à nossa imagem.



       Levando as nossas ideias para o terreno de jogo, vamos encontrar sempre equipas diferentes, onde essas equipas tem também a sua organização da equipa e os seus processos, e com isso, tem o seu próprio modelo de jogo. Isto significa que vamos encontrar dificuldades perante um adversário organizado, disposto a vencer a partida e, ao longo da partida, vamos ter que fazer alterações na equipa para melhorar as nossas hipóteses de vencer a partida.
       Para que essas alterações possam ter sucesso, precisamos de estar preparados para as fazer. E para que os jogadores estejam prontos para essas alterações, temos que os preparar no treino. É exatamente através do treino que cada equipa busca a sua organização no modelo de jogo. Feito isto, a equipa só pode fazer alterações no decorrer de uma partida de futebol se o seu modelo de jogo permitir e estiver devidamente preparada para o fazer. Vamos enumerar várias razões porque um modelo de jogo deve ser flexível, mas esta é a mais importante: capacidade em moldar a equipa consoante a competição.
       É precisamente nesta capacidade que nos baseamos para compreender o que é um modelo de jogo flexível, pois um modelo de jogo flexível, é um modelo de jogo cujas próprias características permitem moldar a equipa a curto prazo (durante uma partida por exemplo) ou a longo prazo (durante uma competição completa). Portanto, modelos de jogo estáticos, que tem sempre a mesma forma de jogar, além de serem previsíveis, têm sempre poucas soluções. Já os modelos de jogo flexíveis têm imensas soluções para as diferentes dificuldades que encontram.


     5 razões porque um modelo de jogo deve ser flexível

       Existem várias razões porque um modelo de jogo deve ser flexível e adaptável. A seguir, deixamos algumas dessas razões:

       >>> Competição variada
       Durante a competição, enfrentam-se diferentes estilos de jogo. Quando a nossa equipa defronta uma equipa, irá encontrar um estilo de jogo. Se enfrentar outra equipa, irá encontrar outro estilo de jogo diferente. Quanto mais equipas defrontarmos, mais estilos de jogo diferentes vamos encontrar. Existe um provérbio que diz: " a mesma tática, a mesma vitória". No futebol, essa filosofia não se aplica. Podemos usar o mesmo estilo vários jogos porque é dessa forma que a equipa está habituada a jogar, mas não podemos usar as mesmas formas de atacar e defender, porque os vários adversários atacam e defendem de formas diferentes. Temos que nos adaptar jogo a jogo. Mourinho, pelo qual existe um dos melhores livros de futebol que existem, afirma também que cada jogo é um jogo e difere dos restantes jogos. Completando, não existem dois jogos iguais.

       >>> Risco de lesões
       Existe sempre o risco de lesões. Apesar de nenhum jogador ser insubstituível, todos tem um estilo diferente de jogar, e por isso, quando um jogador é substituído, o estilo da equipa altera-se parcialmente ou completamente. Assim, quando um jogador titular se lesiona, o seu substituto pode ser um jogador excelente e realmente acrescentar algo à equipa. No entanto, dificilmente o seu estilo será igual, e por isso o estilo da equipa será também diferente.



       >>> Evolução do modelo de jogo ao longo da época.
       Durante a competição, principalmente em equipas bem organizadas, serão encontradas sempre falhas a corrigir e ideias para melhorar o estilo de jogo de uma equipa à medida que a época vai avançando. Geralmente, os jogadores são ou deviam ser capazes de cumprir pelo menos duas funções na organização da sua equipa. Mas, no meio da equipa, pode acontecer que determinado estilo de jogo de um jogador não funcione. O treinador procura então um segundo estilo para o jogador, que acabará por influenciar o desenrolar do jogo de toda a equipa. Caso um modelo de jogo seja flexível, o treinador pode alterar o estilo dos jogadores sem que o rendimento seja quebrado, mas até melhorado.

       >>> Substituições e alterações táticas
       Substituições ou alterações táticas são sempre uma dor de cabeça por indecisões que muitas mentes acarretam. A meio de uma partida de futebol, é sempre necessário alterar a constituição da organização da equipa, e os resultados tendem a ser melhores se a equipa estiver pronta para essas alterações. Novamente com a ideia que jogadores diferentes tem estilos de jogos diferentes, e que cada jogador fará a equipa jogar de forma diferente, quando o treinador faz uma substituição, o estilo de jogo da equipa é alterado. O importante é que a equipa esteja preparada para isso, sendo que essa preparação parte da organização da equipa ainda no modelo de jogo.

       >>> Evolução dos jogadores.
       Quando os jogadores entram na rotina, é sinal que a sua evolução vai estagnar ou até recuar. O ser humano tem a sua mente insaciável e precisa de aprender sempre algo novo. Um modelo de jogo vale pelo que os jogadores aprendem para melhorar a sua organização em campo. Caso o modelo de jogo seja simples, os jogadores aprendem tudo depressa e deixam de evoluir tática e tecnicamente. Já se o modelo de jogo tiver várias soluções, isto é, tem várias formas de jogar e pode evoluir para outros níveis relacionados com o nível de dificuldade que se encontra, os jogadores podem continuar a evoluir até que o seu próprio organismo não permita ou precise descansar. Esta é uma razão porque José Mourinho, nos seus tempos primordiais de treinador principal, afirmava que treinava o 4-3-3 e depois alternava para o 4-4-2 losango. O próprio treinador (não por estas palavras) afirmava que no segundo ano a evolução dos jogadores iria estagnar, e não podia permitir que tal acontecesse. Servia-se do 4-4-2 losango pela dificuldade em ocupar espaços, levando os jogadores a concentrarem-se apenas pelo seu esforço.


       Quais são as características necessárias para que um modelo de jogo seja flexível e tenha resultados satisfatórios?

       Qualquer modelo de jogo pode ter várias soluções, mas a equipa não ter resultados, bem como um modelo de jogo pode até ser pouco flexível, mas os resultados da equipa são satisfatórios. Existem duas razões principais para que o modelo de jogo seja flexível e tenha os resultados pretendidos:

       >>> O modelo de jogo deve ser bem treinado
       De nada serve ter um super modelo de jogo, se a equipa não sabe como jogar dessa forma. Não basta ao treinador utilizar exercícios técnicos e pedir para os jogadores jogarem da forma como pretende. Se ainda por cima lhes gritasse, então é que eles não jogavam mesmo. Necessário sim, é ensiná-los e treiná-los, através de exercícios técnico-táticos, desde que estes sejam específicos, isto é, treinem os jogadores da forma que o modelo de jogo lhes pede para jogar.

       >>> Inter-relação entre os vários processos e jogadores
       Para que um modelo de jogo seja flexível, não basta ter apenas duas formas de jogar distintas. É necessário que as várias formas de jogar, mesmo que sejam muitas, sejam formas de jogar que os jogadores podem fazer ou podem vir a fazer (sejam capazes de as realizar após bem treinados). O que quero dizer é que cada jogador é adaptável a uma forma de jogar, e é um erro grosseiro fazer o jogador jogar algo que não sabe. Primeiro, precisa ser treinado, e só depois é que pode ser ensinado a jogar como queremos. E para que o jogador tenha melhores hipóteses de vir a ser bem-sucedido em vários estilos de jogo diferentes, depende da sua adaptação a esses estilos, assim como da adaptação à diferença desses estilos, uma vez que, sendo os estilos diferentes, o jogador necessita jogar de formas diferentes.


       Conclusão

       Após esta breve análise, ficamos a compreender a importância de um modelo de jogo ser adaptável e maleável a vários estilos de jogo. Tal como se fosse um jogo de xadrez, ter apenas um caminho para atacar seria muito fácil para o adversário defender. Já no futebol, utilizar um modelo de jogo estático é tão benéfico para os adversários como prejudicial para a própria equipa pelas razões acima numeradas. Numa outra análise, estudaremos algumas dicas para criar um modelo de jogo flexível, mas por agora, deixo o leitor com alguns artigos importantes:

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