Os padrões e as relações entre volume
e aproveitamento de sequências ofensivas que terminam em finalização e/ou gol
“O futebol é um
esporte obcecado e distraído pela beleza”
(Anderson e Sally in Os Números do Jogo, 2013, p. 45)
Em
sequência ao artigo anterior em que a ação técnica discutida foi o passe (Parte 1 – O Passe), dados sobre finalizações e gols são aqui apresentados de maneira
a complementar a leitura dos padrões apresentados pelas equipes. O passe nos
informa como a equipe “transporta” a bola para chegar ao gol, enquanto a
finalização aponta o padrão de desfecho da jogada. É importante atentar para o
fato de que a finalização acontece quando uma sequência ofensiva é bem sucedida
e a bola não é perdida durante a mesma (a sequência ofensiva). E a finalização
é essencial para que a equipe faça gols. Portanto o volume, o tipo e o
aproveitamento de finalizações tem relação direta com o sucesso de uma equipe.
Assim
como no artigo anterior, os números nas figuras a seguir estão divididos de
acordo com a fase da competição (Primeira Fase com três jogos, Segunda Fase com
dois jogos sendo semifinal e final ou disputa do terceiro e quarto lugares). E
também em valores absolutos (número de finalizações totais) e média (número
total dividido pelo número de jogos respectivo).
|
Figura
1 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Finalizações) |
A
seleção com maior decréscimo no número de finalizações foi a Espanha, porém ela
criou um índice muito alto na primeira fase e mesmo sendo a equipe que mais
finalizou em média na segunda fase, teve como produto final uma performance em
decréscimo. Todas as outras seleções tiveram um aumento significativo no volume
de finalizações. Pode-se constatar também que as duas equipes que apresentaram
maior crescimento na comparação das duas fases ficaram fora da final. A média
de finalizações na segunda fase foi muito próxima entre as equipes, com o
Uruguai ficando um pouco abaixo dos outros.
|
Figura
2 – Comparação entre a Primeira Fase e o Resultado Final (Finalizações) |
A
quantidade de finalizações apresentou uma mudança relativamente alta entre a
primeira fase e o resultado final. E essa mudança pode ter acontecido em
decorrência dos jogos eliminatórios. Como pode-se constatar nas duas próximas
figuras, esse aumento na média de finalizações de três seleções e a diminuição
da média de uma delas não teve uma transferência direta no aumento do número de
gols. Muito pelo contrário, todas as seleções diminuíram a média de gols nas
duas partidas finais. Ao que parece, com a melhora do nível dos adversários,
eram necessárias também mais finalizações para se chegar ao gol (qualidade dos
goleiros, provavelmente).
Olhando friamente para os números, não é possível
relacionar diretamente a quantidade de finalizações com os gols, porque as
finalizações têm características próprias e podem ser classificadas em alguns
tipos (essa é outra discussão). Em geral, as finalizações que são construídas
por uma equipe que pressiona alto são diferentes daquela que uma equipe que
contra-ataca obtém durante uma partida.
|
Figura 3 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Gols)
|
A
seleção brasileira foi aquela que conseguiu sustentar uma média mais próxima da
obtida na primeira fase e não por acaso, sagrou-se campeã. A Espanha, mesmo
sendo a equipe que mais finalizou em média nos dois jogou não marcou gols nessa
fase, com uma queda vertiginosa de aproveitamento de finalizações. Esses
resultados podem indicar que a equipe campeã de uma competição de alto nível,
não apenas tem um padrão de rendimento alto em relação aos seus competidores,
como consegue sustentá-lo sob circunstâncias desfavoráveis, sendo resiliente,
flexibilizando em resposta aos novos problemas gerados pelos sistemas
defensivos mais elaborados que enfrenta nos jogos decisivos.
|
Figura 4 – Comparação entre a Primeira Fase e o
Resultado Final (Gols)
|
Todas
as seleções marcaram menos gols em média nos jogos eliminatórios. Três
finalizaram mais do que na primeira fase e aquela que finalizou menos do que na
primeira fase em média, ainda sim finalizou mais do que as outras (a Espanha no
caso). A diferença foi o aproveitamento. O gol é produto de boas decisões-ações
tomadas-realizadas individual e/ou coletivamente, simultâneas e/ou em sequência
que, relativas ao problema proposto pelo jogo, são suficientes para resolvê-lo
(o problema).
A
empresa Opta Sports registrou 2.842 eventos na final da Liga dos Campeões entre
Inter de Milão e Bayern de Munique. Dois desses eventos foram os gols marcados
por Diego Milito que deram o título à Inter. Ou seja, foi um gol a cada 1.421
eventos (Anderson e Sally, 2013). Marcar um gol é produto de muitas
ações e tem relação com todas as variáveis interferentes, afinal, ele é o
grande alvo das equipes. Marcar gols gasta energia, energia complexa. Finalizar
mais gasta energia e ao que parece, pode ou não resultar em mais gols. Esse
balanço deve ser feito pela equipe. Quando, como e se finalizar quais as
consequências virão.
Referências Bibliográficas
Anderson,
C. e Sally, D. Os números do jogo:
por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução: André Fontenelle. São Paulo, 2013.
Leitão,
R.A.A. Ciências do esporte aplicadas ao
futebol: reflexões sobre a organização do jogo. 2008. 101 f. Livro
didático de apoio. Curso de especialização em futebol e futsal.
Universidade Gama Filho, 2008.