31 dezembro 2013

Os Padrões das Grandes Seleções na Copa das Confederações 2013: a Finalização e o Gol

Os padrões e as relações entre volume e aproveitamento de sequências ofensivas que terminam em finalização e/ou gol

“O futebol é um esporte obcecado e distraído pela beleza”
(Anderson e Sally in Os Números do Jogo, 2013, p. 45)
Em sequência ao artigo anterior em que a ação técnica discutida foi o passe (Parte 1 – O Passe), dados sobre finalizações e gols são aqui apresentados de maneira a complementar a leitura dos padrões apresentados pelas equipes. O passe nos informa como a equipe “transporta” a bola para chegar ao gol, enquanto a finalização aponta o padrão de desfecho da jogada. É importante atentar para o fato de que a finalização acontece quando uma sequência ofensiva é bem sucedida e a bola não é perdida durante a mesma (a sequência ofensiva). E a finalização é essencial para que a equipe faça gols. Portanto o volume, o tipo e o aproveitamento de finalizações tem relação direta com o sucesso de uma equipe.

Assim como no artigo anterior, os números nas figuras a seguir estão divididos de acordo com a fase da competição (Primeira Fase com três jogos, Segunda Fase com dois jogos sendo semifinal e final ou disputa do terceiro e quarto lugares). E também em valores absolutos (número de finalizações totais) e média (número total dividido pelo número de jogos respectivo).

Figura 1 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Finalizações)

A seleção com maior decréscimo no número de finalizações foi a Espanha, porém ela criou um índice muito alto na primeira fase e mesmo sendo a equipe que mais finalizou em média na segunda fase, teve como produto final uma performance em decréscimo. Todas as outras seleções tiveram um aumento significativo no volume de finalizações. Pode-se constatar também que as duas equipes que apresentaram maior crescimento na comparação das duas fases ficaram fora da final. A média de finalizações na segunda fase foi muito próxima entre as equipes, com o Uruguai ficando um pouco abaixo dos outros.

Figura 2 – Comparação entre a Primeira Fase e o Resultado Final (Finalizações)

A quantidade de finalizações apresentou uma mudança relativamente alta entre a primeira fase e o resultado final. E essa mudança pode ter acontecido em decorrência dos jogos eliminatórios. Como pode-se constatar nas duas próximas figuras, esse aumento na média de finalizações de três seleções e a diminuição da média de uma delas não teve uma transferência direta no aumento do número de gols. Muito pelo contrário, todas as seleções diminuíram a média de gols nas duas partidas finais. Ao que parece, com a melhora do nível dos adversários, eram necessárias também mais finalizações para se chegar ao gol (qualidade dos goleiros, provavelmente). 
Olhando friamente para os números, não é possível relacionar diretamente a quantidade de finalizações com os gols, porque as finalizações têm características próprias e podem ser classificadas em alguns tipos (essa é outra discussão). Em geral, as finalizações que são construídas por uma equipe que pressiona alto são diferentes daquela que uma equipe que contra-ataca obtém durante uma partida.

Figura 3 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Gols)
A seleção brasileira foi aquela que conseguiu sustentar uma média mais próxima da obtida na primeira fase e não por acaso, sagrou-se campeã. A Espanha, mesmo sendo a equipe que mais finalizou em média nos dois jogou não marcou gols nessa fase, com uma queda vertiginosa de aproveitamento de finalizações. Esses resultados podem indicar que a equipe campeã de uma competição de alto nível, não apenas tem um padrão de rendimento alto em relação aos seus competidores, como consegue sustentá-lo sob circunstâncias desfavoráveis, sendo resiliente, flexibilizando em resposta aos novos problemas gerados pelos sistemas defensivos mais elaborados que enfrenta nos jogos decisivos. 

Figura 4 – Comparação entre a Primeira Fase e o Resultado Final (Gols)
Todas as seleções marcaram menos gols em média nos jogos eliminatórios. Três finalizaram mais do que na primeira fase e aquela que finalizou menos do que na primeira fase em média, ainda sim finalizou mais do que as outras (a Espanha no caso). A diferença foi o aproveitamento. O gol é produto de boas decisões-ações tomadas-realizadas individual e/ou coletivamente, simultâneas e/ou em sequência que, relativas ao problema proposto pelo jogo, são suficientes para resolvê-lo (o problema).
A empresa Opta Sports registrou 2.842 eventos na final da Liga dos Campeões entre Inter de Milão e Bayern de Munique. Dois desses eventos foram os gols marcados por Diego Milito que deram o título à Inter. Ou seja, foi um gol a cada 1.421 eventos (Anderson e Sally, 2013). Marcar um gol é produto de muitas ações e tem relação com todas as variáveis interferentes, afinal, ele é o grande alvo das equipes. Marcar gols gasta energia, energia complexa. Finalizar mais gasta energia e ao que parece, pode ou não resultar em mais gols. Esse balanço deve ser feito pela equipe. Quando, como e se finalizar quais as consequências virão.
  
Referências Bibliográficas
Anderson, C. e Sally, D. Os números do jogo: por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução: André Fontenelle. São Paulo, 2013.

FIFA. Disponível em: http://pt.fifa.com/confederationscup/statistics/index.htm. Acesso em: 05/07/2013.
Leitão, R.A.A. Ciências do esporte aplicadas ao futebol: reflexões sobre a organização do jogo. 2008. 101 f. Livro didático de apoio. Curso de especialização em futebol e futsal. Universidade Gama Filho, 2008.

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