Figura 2 – Hierarquia das Interações entre os meias e
atacantes
Ao
longo do jogo, dependendo da posição da bola e da equipe que detém a posse, o
esquema tático vai se deformando para se ajustar às necessidades momentâneas
(recuperação da bola, direcionamento do jogo do adversário, construção do jogo,
fase de finalização, etc.). O 4-2-3-1 geralmente passa pelos arranjos
apresentados (figura 1) durante o jogo pela proximidade dessas posições com a que
seus jogadores ocupam em campo mais naturalmente. Porém, em muitos casos,
apesar de considerar que esse esquema tático é a base para as outras variações,
o que vai definir realmente o esquema tático é a forma como os jogadores
interagem em campo. Na figura 2, as setas laranjas indicam uma “relação mais
forte” entre os jogadores do setor, enquanto as setas pretas indicam uma “relação
menos forte” entre seus membros. Portanto, independentemente de como o esquema
é nomeado, o que vai defini-lo é o resultado dessas interações. Nas três
situações (figura 2) os meias / alas / atacantes podem ser assim chamados de
acordo com os parceiros com quem interajam mais fortemente. No primeiro campo
(figura 2), a linha com três meias realiza suas dinâmicas baseado primeiramente
nos comportamentos de seus companheiros dessa linha. A linha possui dinâmicas
que então conectadas com as da equipe. Há uma hierarquia, que respeita e
integra essas dinâmicas num todo funcional em direção à eficácia no jogo. No
campo central, os alas interagem mais fortemente com a linha de volantes e
menos fortemente com o meia central. Como produto, a equipe trabalha mais em
uma plataforma 1-4-4-1-1 pela forma como estrutura o espaço na solução dos
problemas do jogo. No campo da direita, há uma interação maior com o atacante
centralizado do que com o meia do centro. Visualmente, emerge o 1-4-3(2-1)-3. A
relação não acontece apenas no nível espacial, portanto, mesmo que a equipe
transite entre os três desenhos, será atraída para uma configuração em
especial.
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Figura 3 – Duas possibilidades para a Pressão Alta
(Linha 1)
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Acima
são apresentadas duas possibilidades de estruturação espacial para a pressão na
referida plataforma tática. No primeiro modelo, a “linha de 4” defensiva fica
preservada e os volantes flutuam de maneira mais agressiva para o lado da bola
compensando a manutenção do lateral na linha. Como vantagem, a linha defensiva
fica mais larga, porém uma zona frágil tem que ser administrada no centro
(oposto à bola) conforme destacado na figura 3 (retângulo horizontal vermelho).
Com a subida do lateral fechando a paralela, o centro do campo fica mais
povoado (modelo à direita na figura 3), porém a linha defensiva fica mais
estreita, com maior fragilidade às diagonais longas (zona vermelha – retângulo
vertical). Obviamente, a abordagem do jogador que pressiona a bola muda em
função do tipo de pressão (direcionando para o centro ou para a paralela).
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Figura
4 – Posicionamento para Pressão a partir da Linha 2
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Do
ponto de vista estrutural, a pressão a partir da linha 2 (intermediária de
ataque) é melhor acomodada pela plataforma do que a pressão alta (linha 1). Os
espaços entre os laterais e os meias do mesmo lado (LD – MD e LE – ME), são
mais facilmente diminuídos e a necessidade de ajustes é menor, conforme
demonstrado na figura 3. Habitualmente, a pressão inicia quando a bola é
direcionada para uma das laterais, conforme o campo da direita da figura 4.
Dependendo do princípio operacional (recuperação da bola ou impedir a
progressão) o atacante se comporta de maneira diferente. Para a recuperação,
ele busca manter a bola na zona para poder ser pressionada (tirando linha de
passe no zagueiro ou que permita a virada). Se o objetivo for impedir a
progressão, ele pode entrar atrás da linha da bola novamente e permitir a
circulação.
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Figura
5 – Organização defensiva na Linha 4 e Balanço Ofensivo
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Dentre
as possibilidades de organização defensiva na linha 4 (intermediária defensiva)
que o esquema tático permite, duas estão apresentadas na figura 5. No campo da
esquerda, a opção é por uma proporção (Leitão, 2009) mais conservadora do ponto
de vista numérico com viés defensivo, enquanto no campo da direita há uma
proporção mais ousada. A proporção é um conceito das duas fases de transição
(ataque-defesa e defesa-ataque) que, segundo o autor, relativiza o número de
jogadores que estão efetivamente “defendendo” ou “atacando” sem que isso possa
parecer uma fragmentação, apenas como sistematização do conteúdo. No campo à
esquerda a proporção é de (2 x [8 + G]), ou seja, dois jogadores com preocupações
já ofensivas no caso da recuperação da bola e nove (goleiro incluso) jogadores
envolvidos mais diretamente com a sua recuperação. No campo da direita a
proporção é de (4 x [6 + G]). Naturalmente, a ocupação do espaço pelos
jogadores permite um balanço ofensivo (em destaque no campo à direita) que
rapidamente pode deixar o ataque com boa amplitude (MD e ME) e profundidade
(AT). Em compensação, com esse balanço, a marcação em largura (equilíbrio
horizontal) fica prejudicada. O posicionamento do campo à esquerda oferece um
melhor equilíbrio defensivo (em largura inclusive), porém, no movimento
seguinte à recuperação o tempo para ocupar o campo de ataque é maior.
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Figura
6 – Balanço Defensivo
Na
figura 6 são mostradas duas possibilidades de balanço defensivo com a estrutura
e a proporção (6 x [4 + G]) mantidas, mas com variação dos jogadores que o
realizam. No campo à esquerda, um volante faz o balanço da jogada (VD) e o
outro da equipe (VE). No outro modelo, o lateral faz o balanço da jogada (LD) e
o volante do lado da bola (VD) o da equipe, com o outro volante (VE) mais
adiantado. O balanço defensivo do campo à esquerda, coloca mais jogadores na
lateral em que está a bola (aumentado as chances de triangulações) enquanto o
balanço defensivo do campo à direita preenche mais a faixa central. As
vantagens e desvantagens devem ser pesadas. Há muitas outras possibilidades,
como o lateral oposto no balanço (5 x [5 + G]), por exemplo.
De
maneira consciente ou intuitiva, o 4-2-3-1 ganhou espaço no Brasil quando algumas
preocupações coletivas começaram a nortear as ações dos treinadores. Em boa
parte das situações, o esquema ainda é utilizado por permitir encaixes
individuais mais facilmente. Originalmente com três meias, conforme
apresentado, no Brasil é mais normal observá-lo com dois atacantes abertos
(seria um 1-4-3-3?) e um mais centralizado ou até com um atacante aberto de um
lado e um meia no outro, quase um 1-4-4-2 “disfarçado”. O esquema ou plataforma
tática não se esgota nele mesmo. Todos os conceitos discutidos podem ser
resolvidos em outros esquemas, desde que a essência do problema seja entendida.
Referências Bibliográficas
Arruda,
M. et al. Futebol:
ciências aplicadas ao jogo e ao treinamento. São Paulo. Phorte, 2013. 560p.
Leitão,
R.A.A. Ciências do esporte aplicadas ao
futebol: reflexões sobre a organização do jogo. 2008. 101 f. Livro didático de apoio. Curso de
especialização em futebol e futsal. Universidade Gama Filho, 2008.
Artigo de Leandro Zago
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